Dólar atinge R$ 6,17 apesar das ações do Banco Central

Alta do Dólar e Impactos na Economia Brasileira

O dólar continua em uma trajetória de valorização significativa, mesmo com as tentativas do Banco Central de conter a alta da moeda americana. Nesta terça-feira (17), a instituição realizou um leilão de venda à vista de US$ 1,272 bilhão, integralmente adquirido pelos investidores. Este é o quarto dia consecutivo de leilões cambiais, totalizando bilhões de dólares ofertados ao mercado. Contudo, as intervenções não têm conseguido aliviar a pressão sobre o câmbio.

Na abertura dos mercados, às 10h22, o dólar já registrava alta de 1,27%, alcançando R$ 6,17. Pouco tempo depois, às 11h13, o valor subia levemente, para R$ 6,1681. O movimento reflete as tensões econômicas e políticas internas, somadas ao cenário internacional de incertezas.

Fatores por trás da alta do dólar

A escalada do dólar no Brasil não é isolada, mas resultado de uma combinação de fatores que incluem tanto questões internas quanto pressões externas.

Impacto do cenário internacional

No cenário global, a valorização do dólar é sustentada por uma política monetária mais rígida nos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed) tem mantido taxas de juros elevadas para combater a inflação, o que atrai investidores para ativos americanos, considerados mais seguros em tempos de incerteza. Essa tendência global, somada à fragilidade econômica brasileira, intensifica a pressão sobre o real.

Incertezas fiscais no Brasil

Internamente, o pacote de ajuste fiscal apresentado pelo governo em novembro trouxe desconfiança. Embora tenha sido anunciado com a promessa de economizar R$ 327 bilhões em cinco anos, o mercado avalia que as medidas, que incluem controle do salário mínimo, mudanças em benefícios sociais e ajustes na previdência militar, podem ser enfraquecidas no Congresso.

A proximidade do recesso parlamentar aumenta a incerteza sobre a aprovação das medidas ainda em 2024. Sem uma sinalização clara de comprometimento fiscal, investidores preferem migrar para ativos dolarizados, reduzindo ainda mais o valor do real.

Deterioração econômica e aumento da dívida pública

Outro ponto de atenção é a situação fiscal do país. Segundo projeções do Tesouro Nacional, a dívida pública bruta pode chegar a 81,7% do PIB até 2026, evidenciando o desequilíbrio estrutural das contas públicas. Esse cenário é agravado pelo déficit primário crescente e pela elevação dos juros, que tornam o custo da dívida ainda maior.

Por que o Banco Central não tem conseguido controlar o câmbio?

Embora o Banco Central esteja realizando intervenções cambiais significativas, os leilões de dólares têm um efeito limitado devido a fatores estruturais.

  • Demanda reprimida por dólar: Muitas empresas e fundos de investimento aguardaram um momento de baixa do dólar para realizar remessas internacionais ou fechar contratos de importação. Com o câmbio em alta persistente, esses agentes entraram no mercado, gerando uma pressão adicional.
  • Percepção de risco: Investidores estão cada vez mais cautelosos com a instabilidade política e fiscal no Brasil, preferindo se proteger adquirindo moeda estrangeira. Isso cria uma demanda extra por dólares, que supera a oferta disponibilizada pelo Banco Central.
  • Conjuntura global desfavorável: Com juros altos nos Estados Unidos e incertezas geopolíticas, o mercado global reforça a atratividade do dólar como ativo seguro, dificultando a valorização de moedas emergentes, como o real.

Como isso impacta a economia brasileira?

A valorização do dólar tem efeitos amplos na economia, que vão além do mercado financeiro.

  • Inflação pressionada: Com o dólar mais caro, produtos importados, como combustíveis, insumos industriais e eletrônicos, ficam mais onerosos, impactando diretamente os preços ao consumidor.
  • Endividamento externo: Empresas e governos que possuem dívidas em dólar enfrentam custos mais altos para honrar esses compromissos, o que pode comprometer investimentos e projetos.
  • Setores beneficiados: Por outro lado, exportadores, especialmente do agronegócio, se beneficiam do câmbio alto, já que recebem em dólar por suas vendas externas.

O que esperar daqui para frente?

Especialistas apontam que, enquanto não houver uma sinalização clara de comprometimento com o ajuste fiscal, o dólar deve continuar pressionado. Além disso, fatores externos, como a política monetária dos Estados Unidos e a evolução das tensões geopolíticas, também serão determinantes para o futuro da moeda.

O governo precisará adotar uma postura mais firme e coordenada para reconquistar a confiança do mercado e equilibrar as contas públicas, enquanto o Banco Central deve continuar utilizando ferramentas como os leilões cambiais para conter a volatilidade no curto prazo.

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